html> Estafardanas: janeiro 2006

domingo, janeiro 29

 

A experiência é a «madre» de todas as «cousas»…

Um fazendeiro resolve trocar o seu velho galo por outro que desse conta das inúmeras galinhas. Ao chegar o novo galo, e percebendo que perderia
as funções, o velho galo foi conversar com o seu substituto:
- Olha, sei que já estou velho e é por isso que meu dono o trouxe aqui, mas será que você poderia deixar pelo menos duas galinhas para mim?
- Que é isso, velhote?! Vou ficar com todas.
- Mas só duas... Ainda insistiu o galo.
- Não. Já disse! São todas minhas!
- Então vamos fazer o seguinte, propõe o velho galo, apostamos uma corrida à volta do galinheiro. Se eu ganhar, fico com pelo menos duas galinhas. Se eu perder, são todas suas.
O galo jovem mede o velho de cima em baixo e pensa que, certamente, ele não será capaz de vencê-lo.
- Tudo bem, velhote, eu aceito.
- Já que, realmente minhas chances são poucas, deixe-me ficar vinte passos à frente, pediu o galo.
O mais jovem pensou por uns instantes e aceitou as condições do galo velho. Iniciada a corrida, o galo jovem dispara para alcançar o outro galo. O galo velho faz um esforço danado para manter a vantagem, mas rapidamente está sendo alcançado pelo mais novo. O fazendeiro pega na sua espingarda e atira sem piedade no galo mais jovem. Guardando a arma, comenta com a mulher:
- Num tô intendendo, uai .. ! Já é o quinto galo gay bicha que a gente compra esta semana! O filho da mãe largou as galinhas e estava correndo atrás do galo velho, vê se pode!??

Moral da história: NADA SUBSTITUI A EXPERIÊNCIA!!!


Do colectivo e anónimo “anedotário” humano

 

4.

Pego em objectos e educo-te.
A lenta corrupção.
Vou ao teu encontro
por ressonâncias
de folhagem negra.

Sento-me voltado para ti.
Imagino-me com as mãos.

Aprendo de ti, o aprendido em mim.


Joaquim Manuel Magalhães, Consequência do Lugar, Relógio d’Água, Lisboa, 2001, p.18.

 

Ler, Reflectir, Meditar e... Viver

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Coma você mesmo o seu fruto

Queixava-se um discípulo ao seu Mestre:
«Que belas “estórias” o senhor nos conta;
mas nunca nos revela o seu sentido».

E respondeu o Mestre:
«se alguém te desse um fruto,
já meio comido e mal saboroso,
tu gostavas?»

O sentido das coisas é um bem que ninguém dá; é uma descoberta pessoal!


Pista de leitura:
Leia a «estória» mais uma vez, depois de ter reflectido sobre ela. Procure criar silêncio dentro de si a fim de que a «estória» lhe possa revelar todo o seu sentido e profundidade de conteúdo. Verá que o seu sentido está para além das palavras e reflexões.

Anthony de Mello, O Canto do Pássaro, Paulinas, Lisboa, 2005, pp. 11 e 14

quarta-feira, janeiro 18

 

A vida tal como a penso

Mais uma vez acordei estremunhado. Persegue-me o sonho de sempre: a pura insatisfação do presente, das formas como penso desejar em que o meu presente se transfigure, em qualquer outra coisa. Loucos sonhos de um individuo em pleno êxtase e sedento de uma realização pessoal. Sonho com o que nunca virá, com o que nunca se realizará. Porque não? No mínimo a resposta é simples: nada faço por isso…
E se fizer? Demanda com todas as minhas forças na procura do sonho, do caminho, de uma auto-realização. E se começar a acreditar que posso mudar algo ou alguém? E se acreditar que a forma do mundo pode depender do modelo que lhe quero dar? Continuará a ser uma esfera? Continuará a girar em torno do astro Pai?
Procurei a palete do arco-íris para, com sorte, colorir o mundo de outras tonalidades. Acreditei que o horizonte das nossas singulares vivências podia ser transfigurado em, supostamente, algo melhor. Procurei sair do círculo da minha existência e observar outros, no mais alargado plano a que poderia aspirar. Calcorreei os trilhos que me levam a ti. Pois é por ti que luto e escravizo a minha liberdade. Em ti me quero perder, para me encontrar como, no mínimo, aspiro a ser. Devaneios de um sonhador em desespero de causa…
Pinto o que vejo conforme as diferentes disposições que vou sentindo. A triplicidade de critérios é simples: se descontente com o tempo que não me sorri, optarei por tonalidades negras da realidade a retratar, onde os brancos apenas surgem enquanto esperança, pouca, de uma mudança a surgir; se contente e motivado com o tempo que há-de vir, invento o maior número de matizes possíveis, enquanto expressão de uma transversal alegria de viver o momento que transborda os limites de uma efémera existência; mas, e diga-se em prol da mais pura verdade, aquele em verdadeiramente vivo, posso chamar o tempo real, por entre tonalidades cinzentas e rosas. Impõem-se uma elucidação dos termos agora expostos. Porquê? Pela mera necessidade de uma visão da vida tal como ela é, ou, pelo menos, como penso que ela é.
Em cinzentos reinos nos movimentamos, nunca sabendo ao certo qual a certeza dos caminhos que trilhamos. Logicamente, se é que podemos acreditar na mesma, indeferimos inúmeras direcções, por simples oposição ao que tomamos. Aqui poderá consistir a nossa suposta liberdade de opção: entre muitos, definimos aquele que se afigura como o melhor curso existencial, e se estamos naqueles dias, os mais habituais, seguimos por aí, não por certeza de um espírito iluminado, mas tão simplesmente porque temos de seguir por algum lado. O critério da necessidade impõe-se à nossa consciência, seja ela o que for.
Do fluido rosa se reveste tudo aquilo que gostaríamos que fosse. Ainda que trilhemos um caminho, mais ou menos certos que supostamente seria por aí, devaneamos por entre gostosas utopias, que vão à plena concretização da opção tomada, como a sensação ilusória que outros rumos poderiam ser tomados. E deleitamo-nos a pensar no que o nosso pavio de vela poderia ser: como arderia se o tivesse sido acendido desta forma… ou daquela. Adornamos as hipotéticas escolhas que nunca foram, e rosamos os resultados: teria sido tão bom desta forma… ou nos convencemos que os resultados do itinerário tomado nos irão irremediavelmente conduzir a algum lado. E assim nos deixamos ficar nos rosados resultados de uma acção empreendida. Vale mais aqui o sonho, do que a efectividade de um resultado existencial, dito na crueza das palavras simples, preterimos a acção a tomar em prol de um resultado incerto e “rosado” em que acreditamos.
Este é o meu sonho. Este é o meu pesadelo!!!

Francisco d’Almeida

 

Testemunho de um passado (in)certo

Viajei por um passado incerto,
Apostei na dúvida de um passo confuso,
Na certeza de um passo concreto,
Na aposta de um eu a concretizar,
De um rumo que quero tomar.

Mais uma vez falhei,
Na procura do que sou,
Na certeza do que quero ser,
Dúvidas infindas,
Caminhos escassos,
E um horizonte longínquo,
Na bruma do que nunca serei.

Olhar de revés,
Para o muito que se faz,
Ainda que tal sorte,
Nunca me dirá o que trás,
Aqui e agora,
Num presente incerto,
Aquilo que sou em concreto.

Sou sombra do que queria ser,
Passado de um sonho realizado,
Exercício de um presente esgotado,
Lembrança de um projecto mal acabado.

Ó mortais,
Ouvi a minha súplica,
Entendei o som do desespero,
Som de angústia e cólera,
A solidão de quem se diz ser,
Aquilo que ninguém quer ver,
O que nunca há-de ter,
Um caminho, uma firmeza,
Uma realização, uma divagação
Vinda de uma clareza,
Que ninguém vislumbrará uma certeza,
Do que foi e será,
Triste presença lembrada,
De uma aparência indesejada.

Quem ousará lembrar o que nunca serei,
Quem cantará o que quis percorrer,
Ousadia de um dever,
Do que pretendia e ousei,
Afirmar nas tuas margens,
Perdida em infindas viagens,
O que nunca alcancei,
O que em nenhures penetrei,
O âmago do que és.
Ainda que me lance a teus pés
Olhas-me com indiferença,
No interior de uma propensa,
Clara manifestação de indiferença.

Ó Pai,
Olhai para a minha indigência,
Triste forma de transcendência,
Do que alguém queria dar,
Tudo o que de vós fui herdar,
Porque falho tanto?
Esta é a razão do meu espanto,
Rumo sem sentido,
Caminho perdido,
Espaço invadido,
De um eu que nunca foi,
A convicção do que poderia aspirar,
De um tu para amar.

Caminho em direcção a Ti,
E não me interessa se me perdi,
Em veredas e atalhos tortuosos,
Com o caminho da casa hei-de vir a dar,
Pois és tu que me chamas,
És tu que clamas,
Pelo teu filho desavindo
Qual ramo de oliveira em flor,
Que vai para onde for,
Desde que na Tua direcção,
No puro sentido da salvação…

Que me possas aceitar,
No âmago do teu lar.
Não mais quero eu,
Do que nos teus mistérios penetrar…

Francisco d’Almeida

quarta-feira, janeiro 4

 
Estou no apogeu de mais uma fase hipocondríaca.

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